Muitas pessoas sentem vontade de escrever, de colocar no papel as ideias que lhe vão à mente, mas acabam travando apenas nas primeira linhas.
Então… vamos encarar a página em branco!
A primeira coisa que tenho que falar a vocês é que a inspiração pode até surgir, mas apenas o trabalho árduo de escrever, escrever e corrigir vai nos levar à conclusão daquela centelha inicial. Não existe mágica, sinto informar-lhes.
Devemos encarar a escrita como um trabalho: forçar-nos a sentar e escrever, mesmo que aquele conjunto de palavras que vai correndo pelo papel possa parecer simples ou inútil. O importante é começar e deixar que as palavras venham livremente. Afinal, podemos sempre reescrever e aperfeiçoar; felizmente hoje temos ferramentas que auxiliam nisso. Assisti recentemente a “Amor e Inocência”, filme inspirado na vida de Jane Austen e fiquei me perguntando como deveria ser difícil o processo de escrita naquela época! Então, animem-se: até a tecnologia está a nosso favor!
Escrever, escrever e escrever, esse é o segredo
A segunda coisa que posso dizer para acalmar os corações que ainda não encontraram a sua verdadeira forma de escrever é: com o tempo fica mais fácil.
Acreditem, não é pura falácia, aconteceu comigo. Eu havia começado a escrever três livros, e nunca dava continuidade a nenhum deles. Isso porque eu meio que não sabia como fazer aquilo. Não havia desenvolvido uma técnica (aliás, fazendo um parênteses aqui, essa coisa de técnica pode deixar um escritor maluco, falarei disso em outra oportunidade, mas já adianto: técnica é absolutamente pessoal, não se sinta mal se ainda não encontrou a sua), tampouco achava-me capaz de dar seguimento ao que queria escrever. Então, durante um bom tempo, apenas acalentei dentro de mim aquela vontade.
Eu via autores escrevendo vários livros por ano e pensava “Por que só eu não consigo terminar?” Cheguei a me sentir incapaz e abandonar de vez as ideias, que morriam conforme o tempo se encarregava de apagá-las da memória.
Foi quando tive uma inspiração (a conhecida), em uma tarde ociosa, e escrevi, em poucos minutos, um conto. Me achei a pessoa mais feliz do mundo porque, embora em trecho curto, havia começado, dado prosseguimento e finalizado com coerência uma história.
Após essa experiência, fui escrevendo mais e mais, até que juntei uma quantidade de escritos considerável, que ninguém leria, pois eu não teria coragem de mostrar a imperfeição da minha obra a absolutamente ninguém (o medo surreal do julgamento, da crítica, com o que teremos que aprender a conviver se queremos que o mundo leia o que escrevemos, mas isso também será assunto posterior).
Só que escrever contos começou a se tornar fácil demais. Publiquei alguns em meu blog, tornei-me colunista de outro, mas começou a vir aquela vontade de prolongar a história, de escrever coisas mais longas.
Desafie-se! Saia da zona de conforto!
Ouvi uma vez de um escritor de poemas que admiro que ele “não servia para escrever coisas longas”. E a minha resposta para ele foi: “Desafie-se. É muito cômodo para nós escrever coisas mais curtas, porque já passamos do estágio de tentativa, isso tornou-se simples. Precisamos sair da zona de conforto.” Notem que foi como um daqueles avisos que damos aos outros, mas que servem mais ainda para nós.
Então, vou escrever. E agora? Quais passos devo tomar?
A partir daí, criei coragem, mas ainda não achava inspiração. Por onde começar? Ou melhor, como traçar um perfil de personagem, como dar continuidade na história, como seguir adiante? E se eu deixar passar alguma ponta solta? Serei eternamente recriminada por isso? Essa dúvidas me tiravam o sono e bloqueavam o resquício de vontade que aparecia.
Até me surgir uma oportunidade de ouro (mas não esperem que uma coisa assim apareça a vocês para começarem, ok?): uma escritora já conceituada, famosa na Amazon, me convidou a escrever um livro em conjunto. Pronto! Era o pontapé inicial que eu precisava.
E foi bastante tranquilo: debatemos a ideia inicial do livro (que partiu de uma que eu havia tido há tempos) e traçamos mais ou menos como a história transcorreria. Cada uma seria responsável por um capítulo; assim fizemos. E como essa experiência me enriqueceu! Comecei a ver a forma com que ela escrevia e como usava a linha de raciocínio, e fui criando a minha própria. Só que esse livro, mesmo depois de tanto tempo, ainda está em andamento.
Quando começamos, podemos deixar os medos de lado e ir adiante
Mas o que aconteceu a partir daí? Criei coragem de começar o meu solo. Peguei uma ideia que foi amplamente debatida com algumas pessoas de confiança (isso pode ou não se aplicar a outras ideias, mas eu precisava ter certeza de que a minha história seria interessante) e comecei a escrever. Não olhei para trás, não fiz um esquema de personagens, simplesmente deixei fluir.
Isso me tomou meses, eu sentia um frio na barriga (ainda sinto) cada vez que me sentava à frente do computador para dar continuidade à história. Mas eu me forcei a escrever. Sentava e digitava, nem que fossem apenas dez linhas diárias.
A história foi tomando forma, e eu já queria ver como as pessoas encarariam minha escrita. Convidei dois escritores que admiro para ler as páginas iniciais e — pasmem! — ambos elogiaram a linha que eu escolhera e a minha forma de escrever. Isso me motivou a ir em frente.
O processo criativo é individual, você vai descobrir o seu!
E assim continuei, ainda sem olhar para trás. E se vocês pensam que eu já tinha tudo definido e seguia um script, vou animá-los: mudei muitas coisas durante o processo, inclusive o final. Não é o escritor que define a personagem, é a personagem que arrebata o escritor. Não adianta querer forçar uma mocinha a ser boazinha se, no decorrer da trama, ela precisa se mostrar forte e decidida, a ponto até de te surpreender com atitudes inesperadas. Assim é o processo criativo, pessoal e intransferível, parafraseando o velho jargão.
Depois de meses, finalmente terminei o livro e me senti realizada. Hoje, ele está em fase de lançamento, mas já comecei o segundo, e é por isso que afirmo que vai se tornando mais simples.
Voltando à folha em branco
Se você, nesse momento, está se perguntando por que eu escrevi tudo isso, a resposta é simples: o escritor precisa perder o medo da folha em branco, precisa acreditar que é capaz e criar sua própria forma de escrever. Quando terminei a derradeira palavra do meu livro, não pensem que meu trabalho acabou. Foram muitas e muitas relidas e arrumadas, anotações de coisas importantes que seriam vitais ter suas pontas amarradas. Tive três leitores beta (aqueles que leem antes de todo mundo) que também me motivaram e deram dicas valiosas. Escrever é trabalho, é suor e sacrifício, mas é compensador.
Se ainda tenho medo da folha em branco? Tenho que admitir que sim, mas ele está indo embora com muita meditação e força. Se ainda tenho medo do julgamento das pessoas? Claro que sim, mas hoje vejo que escrever é para nós, a satisfação do leitor vem depois.
Portanto, se a inspiração lhe falhar, a melhor dica que dou é: deixe para lá e siga em frente; simplesmente escreva. O final será compensador!